quinta-feira, 16 de setembro de 2010


"Piernas.
Cerebro.
Contacto humano.
Cultura.
El prójimo a quien amar.
Ideales, moral, honestidad.
Dios.
És importante que desde pequeño aprenda bien como és todo."


(Quino)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

- O que aprendemos com uma pedra?
- O silêncio.
- O que aprendemos com o silêncio?
- A meditação.
- O que aprendemos com a meditação?
- Reflexão.
- O que aprendemos com a reflexão?
- Conhecimento.
- O que o conhecimento revela?
- A liberdade.
- Como alcançamos a liberdade?
- Através de Deus.
- Quem é Deus?
- Não se pergunta algo cuja resposta é impossível de ser dita.
- Qual a pergunta certa?
- Como sentir Deus?
- Como?
- Há muitos caminhos. Experimente começar pelo silêncio.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Entre rãs e suas vãs filosofias...

Num lugar não muito longe daqui havia um poço fundo e escuro onde, desde tempos imemoriais, uma sociedade de rãs se estabelecera. Tão fundo era o poço que nenhuma delas jamais havia visitado o mundo de fora. Estavam convencidas que o universo era do tamanho do seu buraco. Havia sobejas evidências científicas para corroborar esta teoria e somente um louco, privado dos sentidos e da razão, afirmaria o contrário. Aconteceu, entretanto, que um pintassilgo que voava por ali viu o poço, ficou curioso, e resolveu investigar suas profundezas. Qual não foi sua surpresa ao descobrir as rãs! Mais perplexas ficaram estas, pois aquelas estranha criatura de penas colocava em questão todas as verdades já secularmente sedimentadas e comprovadas em sua sociedade. O pintassilgo morreu de dó. Como é que as rãs podiam viver presas em tal poço, sem ao menos a esperança de poder sair? Claro que a ideia de sair era absurda para os batráquios, pois se o seu buraco era o universo, não poderia haver um “lá fora”. E o pintassilgo se pôs a cantar furiosamente. Trinou a brisa suave, os campos verdes, as árvores copadas, os riachos cristalinos, borboletas, flores, nuvens, estrelas... o que pôs em polvorosa a sociedade das rãs, que se dividiram. Algumas acreditaram e começaram a imaginar como seria lá fora. Ficaram mais alegres e até mesmo mais bonitas. Coaxaram canções novas. As outras fecharam a cara. Afirmações não confirmadas pela experiência não deveriam ser merecedoras de crédito, elas alegavam. O pintassilgo tinha de estar dizendo coisas sem sentido e mentiras. E se puseram a fazer a crítica filosófica, sociológica e psicológica do seu discurso. A serviço de quem estaria ele? Das classes dominantes? Das classes dominadas? Seu canto seria uma espécie de narcótico? O passarinho seria um louco? Um enganador? Quem sabe ele não passaria de uma alucinação coletiva? Dúvidas não havia de que o tal canto havia criado muitos problemas. Tanto as rãs-dominantes quanto as rãs-dominadas (que secretamente preparavam uma revolução) não gostaram das ideias que o canto do pintassilgo estava colocando na cabeça do povão. Por ocasião da próxima visita o pintassilgo foi preso, acusado de enganador do povo, morto, empalhado e as demais rãs proibidas, para sempre, de coaxar as canções que ele lhes ensinara... 
(RUBEM ALVES. O que é religião. 1981, p.73-73)

Onde está a alma?

Clássica a passagem em que o cientista abre um corpo e pergunta, cadê a alma? Ora, pois, a alma não está ali. Onde está a alma? É mera criação humana, conceito, abstração. 

A alma, para dar uma definição, é a sede espiritual do homem, não é algo físico. As ciências naturais assumiram como dogma, critério, pressuposto o materialismo, é nesse pilar filosófico que a ciência se assenta hoje. A realidade se explica por aquilo que é sensível, concreto, a ciência se faz pela observação do mundo material. A matéria e a realidade se identificam. E não há nada além disso. As paixões, os sentimentos, as crenças se explicam, nesse viés, por forças do inconsciente, por causas sociais, lutas de classe, por interesses sociais, econômicos e políticos. Não há moralidade; apenas leis e interesses, não há Deus; apenas a ciência e o dinheiro. 

Nossa situação, hoje, está permeada por essa mesma condição filosófica, onde os homens perderam a razão de si, de ser “ser humano”, não sabem o que é saber, pensar, admirar e amar. Não se lê obras de conteúdo, que trazem em si a grande história da humanidade, não se lê Shakespeare pra entender o drama humano, hoje se optam por leituras vazias, que em nada acrescentam. Vivemos um vazio, a perda de referência, a solidão total, a angústia. Talvez isso explique o grande consumo de drogas no ocidente, sexo enlouquecido, matrimônios que duram cinco minutos, uma televisão que emburrece e aturde constantemente. Uma política que nunca ninguém tem tempo, nunca para pra se refletir, não se pensa, apenas se age por impulso, pois nunca há tempo. Isso é manipulação pura! Ou desespero em ultima instância... 

Todo esforço intelectual é voltado para o crescimento econômico, para subir na vida, para possuir coisas, para comprar, para ter, isso é ser melhor que o outro, é preciso competir! A lógica econômica nos possuiu de tal forma, que hoje vemos nossas escolas mudando seu papel, passando da educação para a capacitação técnica. Ao invés de formarmos mentes pensantes, fabricaremos mais mão-de-obra especializada, mais massa para construção de uma sociedade que não conhece a si mesma, que faz sem se perguntar o porquê, que age por impulso, e a cada novo passo, se aproxima do mundo material, e se afasta do mundo da família, dos amigos, dos sentimentos duradouros, talvez nesse mundo que foi enterrado no deserto de coisas, desejos, status, grifes... talvez embaixo de tudo isso, esteja nossa alma, perdida, esquecida, esperando para nos dizer quem nós realmente somos.